segunda-feira, 12 de novembro de 2007

CARTA ESCRITA EM 2070










"Estamos no ano de 2070. Acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de alguém de 85 anos. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje, sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.


Recordo-me quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora. Agora, usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira.
Agora, devemos raspar a cabeça para a mantê-la limpa sem água. Antes, o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje, os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma.

Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDE DA ÁGUA, só que ninguém ligava. pensávamos que a água jamais se podia terminar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes, a quantidade de água indicada como ideal para beber era oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje, só posso beber meio copo.

A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo. Tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.

A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtravam na atmosfera.
Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrintestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.

A industria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam os funcionários com água potável em vez de salário. Os assaltos por um bujão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética.

Em virtude do ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40. Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos. Como conseqüência, há muitas crianças com insuficiências, mutações e deformações. O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por habitante e adulto. Pessoas que não podem pagar são expulsas das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar. Não são de boa qualidade, mas pode-se respirar, e a idade média é de 35 anos.

Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio, fortemente vigiado pelas forças armadas. A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, até mais do que ouro ou diamante. Aqui, em troca, não há arvores, porque quase nunca chove, e quando chega a registrar-se precipitação atmosférica é de chuva ácida. As estações do ano têm sido severamente transformadas pelas provas atômicas e pela indústria contaminante do século XX.

Advertia-se que era imperioso cuidar do meio ambiente, mas ninguém levou a sério. Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo quão bonito eram os bosques. Falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens. Beber toda a água que quisesse. Como a gente era saudável... Ela pergunta-me: 'Papá, por que se acabou a água?' Então, sinto um nó na garganta. Não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou destruindo o meio ambiente, que simplesmente desconsiderou tantos avisos.

Agora, os nossos filhos pagam um preço alto.


Sinceramente, creio que a vida na Terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse tudo isso quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!"



Documento extraído da revista biográfica "Crônicas de los Tiempos", de abril de 2002.


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